11.2.04

Tio Arcido visita o céu


Tio Arcido visita o céu

José Nunes
O longo inverno de Urubici parecia não ter fim. A primavera não chegava. Chico, chegou em casa apavorado. Perguntado o que tinha, ele respondia com meias palavras:
- Eu vi... Eu vi... Pássaros de todas as cores...
- Que pássaros menino? - retrucou a mãe.
- Pássaros enormes levavam Tio Arcido pelos ares como se fosse um viajante. E entre os pássaros ele sorria e abanava para a cidade... Ele foi subindo...
- Você está ficando maluco menino.
- Não, mãe, eu juro que vi. Ele estava aqui, do lado da grota, quando eu vi milhares de pássaros levando o Tio Arcido pelos ares. De repente, vi que eles iam em direção ao céu e sumiram por entre as nuvens.
- Mas, por que ele iria, meu filho?
- Não sei mãe, só sei que ele foi.
- Chico, você não estava dormindo, não?
- Não mãe, juro que vi, com esses olhos que a terra há de comer.
- Bem, e agora? O que vamos fazer?
- Vou ficar esperando por ele, para ver se ele volta.
- Claro que voltará meu filho.
- Não sei não mãe... - disse o menino quase chorando.
Chico ficou o dia inteiro de olhos cravados do céu. De repente, pelo meio da tarde, um grande enxame de abelhas veio zumbindo do céu. Tio Arcido estava no meio delas, sorrindo e abanando para o povo. Foi trazido e colocado no chão, são e salvo. Nesse momento, um delicioso perfume de flores e de mel encheu os ares de Urubici. O céu ficou mais azul do que nunca. As flores espoucavam como pipocas. Todos correram até ele, que, confuso, disse, com um sotaque bem barriga-verde:
- Nossa, acho que estou sonhando... Que lindo é Urubici!
E todos responderam:
- É verdade, nós também, Tio Arcido, parece que estamos sonhando.
- Onde o senhor foi, Tio Arcido?
- A primavera estava demorando e eu fui buscá-la...
Uma grande salva de palmas se ouviu em toda serra, cantos e vivas ecoaram por todo lado.