23.3.14

Florianópolis do Futuro: Uma Rede de Superciclovias


Em Florianópolis, quando o assunto é ciclovia, pouco se entende do que se fala. As autoridades parecem considerar o assunto como “coisa de bicho-grilo”. Então esses jovens insistem e convencem o prefeito a pintar um ladinho na rua e batizar com solenidades e pompas de “ciclovia”.

O espaço reservado não é suficiente para passar uma só bicicleta. No caminho os carros estacionam e as empresas coletoras de entulho fazem da faixa um local preferencial para repousar por longos períodos suas caçambas coletoras de entulhos desavergonhadamente identificadas com os telefones de contato.

Há aqui algo mais do que a simples abordagem conceitual. Há uma recusa em aceitar que a ciclovia é o futuro. Há também o descaramento de esconder o benefício enorme que uma ciclovia bem planejada traz para uma cidade como Florianópolis.

Imagine a quantidade de automóveis em circulação que seria reduzida com a implantação de um projeto completo. Imagine a redução de poluentes, a limpeza, a energia boa que Floripa teria ao se tornar a primeira cidade brasileira com real prioridade para ciclistas.



Agora, não estamos falando de faixas roubadas às ruas estreitas. Estamos falando aqui de um grande projeto: Uma rede de ciclovias com um ramo começando em Barreiros e terminando na UFSC.  Outro ramo começaria na Beira-mar de São José e também terminaria na UFSC. Ambos os ramos formariam um “X” se cruzariam na ponte Hercílio Luz, seguindo cada qual por um lado do morro.

Isto seria apenas o começo e inspiraria a construção de muitas variantes que se interligariam em vários pontos, além de se estender com uma via para o Norte passando por toda a orla de Cacupé a Ponta das Canas, e outra via para o Sul chegando ao Ribeirão da Ilha.

Esta ciclovia seria construída com pistas exclusivas, sem nenhum cruzamento com as ruas dos automóveis e teria cerca de 8 metros de largura com elevados longos de mínima declividade. Parte poderia ser com cobertura de acrílico e parte não coberta. Nos percursos próximos à orla seriam construídas praças de convivência com bancos, mesas e árvores.

Custa caro? Custa quanto? Nós pagamos. Vamos levar o projeto para o Ministério das Cidades para obter os recursos. Vamos construir nosso futuro e festejar o fato de que nossa cidade é uma das poucas no Brasil que se presta a um projeto dessa natureza. Vamos festejar a estupefação do mundo diante  da nossa audácia. Vamos nos divertir indo para o trabalho e para a Universidade com nossas bikes e encontrar os turistas pedalando e comentando que Floripa é "O MÁXIMO!"


Florianópolis 23 de março de 2014

26.2.14

A Paisagem Urbana de Urubici no Início do Século XX (Um olhar sobre uma cidade que era bela e não sabia)



Ao observar fotos antigas de Urubici, uma característica curiosa é percebida de imediato: Todos os telhados possuem inclinação elevada como aquela utilizada na Europa central. A razão da utilização de telhados com inclinações entre 90% e 100% , na Europa é atribuída à necessidade de proteção contra o peso da neve que se acumula durante o inverno. Grandes nevadas também ocorrem na região serrana de Santa Catarina, e esta seria, possivelmente a primeira razão da escolha de grandes inclinações para os telhados da Urubici antiga.



Há que se considerar que as residências antigas de Urubici não utilizavam telhas de barro. Não havia na região olarias com tecnologia suficiente para moldar as telhas cerâmicas. O fabrico de telhas de barro é consideravelmente mais complexo do que o fabrico de tijolos.

Os telhados eram todos feitos de madeira lascada em fatias finas que eram sobrepostas e pregadas em áreas suficientes para dar a cobertura necessária. A utilização da madeira tinha a vantagem de se contar com material abundante e barato. Além disso, o telhado de madeira permitia a utilização de um modelo simplificado de vigamento deixando grandes áreas na parte superior das casas o que constituia área extra na residência: o conhecido sótão, que era utilizado como depósito ou  mesmo como dormitórios.

Assim, era impensável um outro modelo arquitetônico senão aquele que trazia para as ruas uma paisagem interessante formada por telhados bicudos e beirados com franjas desenhadas também em madeira para compensar sua pequena largura.

Para se medir a inclinação de um telhado é necessário utilizar a fórmula:

Assim a estimativa do percentual de inclinação das antigas casas de Urubici foi feito com base em fotos do início do século XX em que, medindo o ângulo total do telhado, se obteve uma abertura de 90 graus. Isto significa que os valores “h” e “L” da fórmula seriam iguais. Supondo-se então uma cumeeira que tenha uma altura h=4m e a metade da largura da casa também L=4m, tem-se uma inclinação I=100%, o que significa que a cada 1 metro de telhado a altura desce também 1 metro. 




A partir da chegada das telhas de barro conhecidas como “telhas francesas”, aos poucos a cidade foi perdendo suas casas com telhas de tabuinhas.  A inclinação máxima exigida para os telhados de cerâmica não poderia exceder os 40% em razão da fixação frágil que teria em inclinações maiores convertendo os telhados em alvo fácil dos ventos.

A população começou a utilizar rapidamente o novo modelo de telhado cerâmico pela conveniência do maior índice de vedação. As tabuinhas de madeira iam rapidamente sendo invadidas por umidade e se deterioravam deixando as residências desprotegidas das intempéries com goteiras novas aparecendo a cada chuva.

Com isso, a bela característica dos telhados de grande inclinação se perdeu em Urubici que passou a contar com uma arquitetura mais convencional, menos bela e, com certeza, menos típica. A telha de cerâmica exigia madeiramentos mais reforçados e inclinações menores que 40%, decretando o fim dos sótãos que eram a alegria das crianças nas brincadeiras de esconde-esconde.

Mas nem tudo o que é ruim não pode ser ainda pior. O advento de novas tecnologias colocou as pessoas sob telhados de amianto apesar de todas as conhecidas doenças relacionadas ao uso deste material. O cimento-amianto cobriu muitas casas na cidade enfeiando a paisagem e empobrecendo o traço cultural marcante que dominou Urubici em seus primeiros anos: os telhados de inclinação elevada.

Sinceramente, eu gostaria de voltar a ver telhados inclinados como aqueles que via na minha infância em Urubici. Hoje existe tecnologia para garantir a perfeita vedação, utilização das áreas de sótãos e permitir uma paisagem urbana  fundamentada em suas raizes históricas e culturais.

A pretensão turística de Urubici deveria levar em consideração a substituição da paisagem urbana pobre e convencional da cidade por nossos modelos arquitetônicos históricos. Para tanto a prefeitura deveria viabilizar estudos sobre nossos modelos de telhados inclinados do início do século passado e partir para o estabelecimento de padrões de coberturas residenciais e comerciais que poderiam merecer tratamento diferenciado nas taxas de IPTU.

Isso custa pouco, mas vale muito.


Lunes