Ao observar fotos antigas de Urubici, uma característica
curiosa é percebida de imediato: Todos os telhados possuem inclinação elevada
como aquela utilizada na Europa central. A razão da utilização de telhados com
inclinações entre 90% e 100% , na Europa é atribuída à necessidade de proteção
contra o peso da neve que se acumula durante o inverno. Grandes nevadas também
ocorrem na região serrana de Santa Catarina, e esta seria, possivelmente a
primeira razão da escolha de grandes inclinações para os telhados da Urubici
antiga.
Há que se considerar que as
residências antigas de Urubici não utilizavam telhas de barro. Não havia na
região olarias com tecnologia suficiente para moldar as telhas cerâmicas. O
fabrico de telhas de barro é consideravelmente mais complexo do que o fabrico
de tijolos.
Os telhados eram todos feitos de
madeira lascada em fatias finas que eram sobrepostas e pregadas em áreas suficientes
para dar a cobertura necessária. A utilização da madeira tinha a vantagem de se
contar com material abundante e barato. Além disso, o telhado de madeira
permitia a utilização de um modelo simplificado de vigamento deixando grandes
áreas na parte superior das casas o que constituia área extra na residência: o
conhecido sótão, que era utilizado como depósito ou mesmo como dormitórios.
Assim, era impensável um outro
modelo arquitetônico senão aquele que trazia para as ruas uma paisagem
interessante formada por telhados bicudos e beirados com franjas desenhadas
também em madeira para compensar sua pequena largura.
Para se medir a inclinação de um
telhado é necessário utilizar a fórmula:
Assim a estimativa do percentual
de inclinação das antigas casas de Urubici foi feito com base em fotos do
início do século XX em que, medindo o ângulo total do telhado, se obteve uma
abertura de 90 graus. Isto significa que os valores “h” e “L” da fórmula
seriam iguais. Supondo-se então uma cumeeira que tenha uma altura h=4m e
a metade da largura da casa também L=4m, tem-se uma inclinação I=100%,
o que significa que a cada 1 metro de telhado a altura desce também 1
metro.
A partir da chegada das telhas de
barro conhecidas como “telhas francesas”, aos poucos a cidade foi perdendo suas
casas com telhas de tabuinhas. A
inclinação máxima exigida para os telhados de cerâmica não poderia exceder os
40% em razão da fixação frágil que teria em inclinações maiores convertendo os
telhados em alvo fácil dos ventos.
A população começou a utilizar
rapidamente o novo modelo de telhado cerâmico pela conveniência do maior índice
de vedação. As tabuinhas de madeira iam rapidamente sendo invadidas por
umidade e se deterioravam deixando as residências desprotegidas das intempéries
com goteiras novas aparecendo a cada chuva.
Com isso, a bela característica
dos telhados de grande inclinação se perdeu em Urubici que passou a contar com
uma arquitetura mais convencional, menos bela e, com certeza, menos típica. A
telha de cerâmica exigia madeiramentos mais reforçados e inclinações menores
que 40%, decretando o fim dos sótãos que eram a alegria das crianças nas
brincadeiras de esconde-esconde.
Mas nem tudo o que é ruim não pode ser ainda pior. O
advento de novas tecnologias colocou as pessoas sob telhados de amianto apesar
de todas as conhecidas doenças relacionadas ao uso deste material. O cimento-amianto
cobriu muitas casas na cidade enfeiando a paisagem e empobrecendo o traço
cultural marcante que dominou Urubici em seus primeiros anos: os telhados de
inclinação elevada.
Sinceramente, eu gostaria de
voltar a ver telhados inclinados como aqueles que via na minha infância em
Urubici. Hoje existe tecnologia para garantir a perfeita vedação, utilização
das áreas de sótãos e permitir uma paisagem urbana fundamentada em suas raizes históricas e culturais.
A pretensão turística de Urubici
deveria levar em consideração a substituição da paisagem urbana pobre e
convencional da cidade por nossos modelos arquitetônicos históricos. Para tanto
a prefeitura deveria viabilizar estudos sobre nossos modelos de telhados
inclinados do início do século passado e partir para o estabelecimento de
padrões de coberturas residenciais e comerciais que poderiam merecer tratamento
diferenciado nas taxas de IPTU.
Isso custa pouco, mas vale muito.
Lunes