26.2.14

A Paisagem Urbana de Urubici no Início do Século XX (Um olhar sobre uma cidade que era bela e não sabia)



Ao observar fotos antigas de Urubici, uma característica curiosa é percebida de imediato: Todos os telhados possuem inclinação elevada como aquela utilizada na Europa central. A razão da utilização de telhados com inclinações entre 90% e 100% , na Europa é atribuída à necessidade de proteção contra o peso da neve que se acumula durante o inverno. Grandes nevadas também ocorrem na região serrana de Santa Catarina, e esta seria, possivelmente a primeira razão da escolha de grandes inclinações para os telhados da Urubici antiga.



Há que se considerar que as residências antigas de Urubici não utilizavam telhas de barro. Não havia na região olarias com tecnologia suficiente para moldar as telhas cerâmicas. O fabrico de telhas de barro é consideravelmente mais complexo do que o fabrico de tijolos.

Os telhados eram todos feitos de madeira lascada em fatias finas que eram sobrepostas e pregadas em áreas suficientes para dar a cobertura necessária. A utilização da madeira tinha a vantagem de se contar com material abundante e barato. Além disso, o telhado de madeira permitia a utilização de um modelo simplificado de vigamento deixando grandes áreas na parte superior das casas o que constituia área extra na residência: o conhecido sótão, que era utilizado como depósito ou  mesmo como dormitórios.

Assim, era impensável um outro modelo arquitetônico senão aquele que trazia para as ruas uma paisagem interessante formada por telhados bicudos e beirados com franjas desenhadas também em madeira para compensar sua pequena largura.

Para se medir a inclinação de um telhado é necessário utilizar a fórmula:

Assim a estimativa do percentual de inclinação das antigas casas de Urubici foi feito com base em fotos do início do século XX em que, medindo o ângulo total do telhado, se obteve uma abertura de 90 graus. Isto significa que os valores “h” e “L” da fórmula seriam iguais. Supondo-se então uma cumeeira que tenha uma altura h=4m e a metade da largura da casa também L=4m, tem-se uma inclinação I=100%, o que significa que a cada 1 metro de telhado a altura desce também 1 metro. 




A partir da chegada das telhas de barro conhecidas como “telhas francesas”, aos poucos a cidade foi perdendo suas casas com telhas de tabuinhas.  A inclinação máxima exigida para os telhados de cerâmica não poderia exceder os 40% em razão da fixação frágil que teria em inclinações maiores convertendo os telhados em alvo fácil dos ventos.

A população começou a utilizar rapidamente o novo modelo de telhado cerâmico pela conveniência do maior índice de vedação. As tabuinhas de madeira iam rapidamente sendo invadidas por umidade e se deterioravam deixando as residências desprotegidas das intempéries com goteiras novas aparecendo a cada chuva.

Com isso, a bela característica dos telhados de grande inclinação se perdeu em Urubici que passou a contar com uma arquitetura mais convencional, menos bela e, com certeza, menos típica. A telha de cerâmica exigia madeiramentos mais reforçados e inclinações menores que 40%, decretando o fim dos sótãos que eram a alegria das crianças nas brincadeiras de esconde-esconde.

Mas nem tudo o que é ruim não pode ser ainda pior. O advento de novas tecnologias colocou as pessoas sob telhados de amianto apesar de todas as conhecidas doenças relacionadas ao uso deste material. O cimento-amianto cobriu muitas casas na cidade enfeiando a paisagem e empobrecendo o traço cultural marcante que dominou Urubici em seus primeiros anos: os telhados de inclinação elevada.

Sinceramente, eu gostaria de voltar a ver telhados inclinados como aqueles que via na minha infância em Urubici. Hoje existe tecnologia para garantir a perfeita vedação, utilização das áreas de sótãos e permitir uma paisagem urbana  fundamentada em suas raizes históricas e culturais.

A pretensão turística de Urubici deveria levar em consideração a substituição da paisagem urbana pobre e convencional da cidade por nossos modelos arquitetônicos históricos. Para tanto a prefeitura deveria viabilizar estudos sobre nossos modelos de telhados inclinados do início do século passado e partir para o estabelecimento de padrões de coberturas residenciais e comerciais que poderiam merecer tratamento diferenciado nas taxas de IPTU.

Isso custa pouco, mas vale muito.


Lunes