16.9.04

Saudade


Cansei de esperar
Que a hora pastosa
Tornasse amanhã
Meu hoje-passado.

Deixei sem viola
A mão infinita
De ocos momentos
Sem risos rasgados.

Agora me resta,
Longevo e criança,
A saudade (quem diria!)
Ferida do tempo
Que esqueci de viver.

15.9.04

As asas de Lula



Elas não brotaram
Do teu pensamento.
Não foi teu coração generoso
Que as colocou.
Não foi a mão
Engenhosa de Santos-Dumont
Que forjou tuas asas...
Milhões de pessoas
De roupas rasgadas
As projetaram.
E multidões abandonadas
Doaram seus ossos para a estrutura.
E mágicos sonhadores
Tiveram suas entranhas dissecadas
Para doar seu sangue, nervos e músculos.
Velhos fracos e doentes
As cravaram em tuas costelas
E crianças famintas
As cobriram de sonho, (Vida...)
Forrando-as delicadamente...
Com plumas de amor que,
Finalmente,
Permitem teu vôo.